sábado, 15 de agosto de 2009

Enviado por Ricardo Noblat - 15.8.2009|

Enviado por Ricardo Noblat -
15.8.2009
10h25m
Coisas da Política - Jornal do Brasil - 2/7/1989
Enviado por Ricardo Noblat -
15.8.2009
10h25m
Coisas da Política - Jornal do Brasil - 2/7/1989
Collor pode derrubar Collor
Por Ricardo Noblat:
O PFL informa: o ex-Ministro Aureliano Chaves será indicado hoje canndidato a Presidente da República. Em setembro, o indicado poderá vir a ser o ex-Prefeito Jânio Quadros.
Alguns políticos e economistas temem que até lá todas as indicações avalizadas pelos partidos acabem não valendo coisa alguma. A hiperinflação, se de fato vier a se instalar entre nós, seria capaz de desestabilizar a eleição de novembro próximo.
Pode haver exagero nesse tipo de temor — é recomendável que ele não passe de exagero. Mas ele existe e, à medida em que o governo jaz, inerte, diante do agravamento da crise, cresce o número de pessoas responsáveis que receiam a interrupção do processo de redemocratização do país.
É muito curta a memória coletiva. Em 1983, o país assistiu a uma onda de saques a supermercados e a lojas no eixo Rio—São Paulo.
Só no Rio foram registrados 63 episódios de saques. Muitos deles ocorreram, também, em algumas cidades do Norte e Nordeste. No centro de São Paulo, certo dia, um movimento de desocupados e de subempregados estilhaçou vitrines e fachadas de agências bancárias.
Uma manifestação de grevistas pôs abaixo parte das grades do Palácio dos Bandeirantes. O Governador Franco Montoro ficou sitiado por algumas horas.
O mundo não acabou por causa disso. Os Urutus não deram o ar de sua graça. Aliás, eles não têm graça alguma. O México decretara a moratória um ano antes. O Brasil, na prática, estava quebrado.
As elites do país souberam se entender para garantir a preservação da ordem pública e o projeto de distensão liderado pelo Presidente João Figueiredo. Deseja-se que demonstrem sabedoria e bom senso para agirem assim novamente.
Os donos do poder não tinham candidato para enfrentar a dupla Leonel Brizola-Luís Inácio Lula da Silva. Agora, têm — ou poderão ter. Poderão dispor da candidatura do ex-Governador Collor de Mello, um típico representante deles mesmos — com a vantagem de ter seduzido amplas faixas do proletariado.
Poderão dispor da candidatura do Deputado Ulysses Guimarães, que aceitaria o apoio deles sem nenhum constrangimento. Aceitaria feliz.
Se preferirem um candidato levemente inclinado para a centro-esquerda, poderão dispor do Senador Mário Covas, que conserva a seu lado o discreto charme do Senador Fernando Henrique Cardoso.
Dificilmente, escolherão seguir com a candidatura do ex-Ministro Aureliano Chaves. Ao indicá-lo, o PFL cumpre a obrigação determinada pela prévia interna que beneficiou Aureliano e que derrotou o Senador Marco Maciel. Nada mais do que isso.
O PFL não acredita nas chances de sucesso do ex-ministro. Talvez nem ele mesmo acredite nelas.
Aureliano não conseguiu fortes apoios no seu próprio estado. Não conseguiu atrair o PTB ou parte dele. Está incomodado com a filiação de Jânio ao partido. Em condições normais de temperatura e pressão, deveria estar comemorando o ingresso do ex-prefeito que poderia vir a ajudá-lo.
Mas Aureliano sabe que Jânio se meteu no PFL para apostar na queda dele. A mais de um interlocutor, o ex-prefeito já confessou que sua candidatura é para quando setembro vier. Até lá, imagina que Aureliano acabará saindo do páreo.
Em caso de renúncia de candidato, a Executiva do partido indica o substituto. Não precisa marcar uma nova convenção. Jânio sonha em ser indicado. Com o apoio do próprio Aureliano.
Ulysses sonha em crescer alguns pontos nas próximas pesquisas sobre intenção de voto para colar o PMDB à sua candidatura. Toda a confusão interna do PMDB poderá ser dissipada se Ulysses der alguma prova de que chegará ao segundo turno da eleição.
Salvo um desastre imprevisto, Collor de Mello deverá chegar ao segundo turno. Pode perder, até lá, parte da força que exibe hoje. Mas terá que despencar muito para não chegar.
Subiu nas pesquisas sozinho, por seus próprios méritos de ilusionista político. Seus defeitos e sua inexperiência poderão vir a ser responsáveis pela queda que se anuncia.
----------------Por Ricardo Noblat:
O PFL informa: o ex-Ministro Aureliano Chaves será indicado hoje canndidato a Presidente da República. Em setembro, o indicado poderá vir a ser o ex-Prefeito Jânio Quadros.
Alguns políticos e economistas temem que até lá todas as indicações avalizadas pelos partidos acabem não valendo coisa alguma. A hiperinflação, se de fato vier a se instalar entre nós, seria capaz de desestabilizar a eleição de novembro próximo.
Pode haver exagero nesse tipo de temor — é recomendável que ele não passe de exagero. Mas ele existe e, à medida em que o governo jaz, inerte, diante do agravamento da crise, cresce o número de pessoas responsáveis que receiam a interrupção do processo de redemocratização do país.
É muito curta a memória coletiva. Em 1983, o país assistiu a uma onda de saques a supermercados e a lojas no eixo Rio—São Paulo.
Só no Rio foram registrados 63 episódios de saques. Muitos deles ocorreram, também, em algumas cidades do Norte e Nordeste. No centro de São Paulo, certo dia, um movimento de desocupados e de subempregados estilhaçou vitrines e fachadas de agências bancárias.
Uma manifestação de grevistas pôs abaixo parte das grades do Palácio dos Bandeirantes. O Governador Franco Montoro ficou sitiado por algumas horas.
O mundo não acabou por causa disso. Os Urutus não deram o ar de sua graça. Aliás, eles não têm graça alguma. O México decretara a moratória um ano antes. O Brasil, na prática, estava quebrado.
As elites do país souberam se entender para garantir a preservação da ordem pública e o projeto de distensão liderado pelo Presidente João Figueiredo. Deseja-se que demonstrem sabedoria e bom senso para agirem assim novamente.
Os donos do poder não tinham candidato para enfrentar a dupla Leonel Brizola-Luís Inácio Lula da Silva. Agora, têm — ou poderão ter. Poderão dispor da candidatura do ex-Governador Collor de Mello, um típico representante deles mesmos — com a vantagem de ter seduzido amplas faixas do proletariado.
Poderão dispor da candidatura do Deputado Ulysses Guimarães, que aceitaria o apoio deles sem nenhum constrangimento. Aceitaria feliz.
Se preferirem um candidato levemente inclinado para a centro-esquerda, poderão dispor do Senador Mário Covas, que conserva a seu lado o discreto charme do Senador Fernando Henrique Cardoso.
Dificilmente, escolherão seguir com a candidatura do ex-Ministro Aureliano Chaves. Ao indicá-lo, o PFL cumpre a obrigação determinada pela prévia interna que beneficiou Aureliano e que derrotou o Senador Marco Maciel. Nada mais do que isso.
O PFL não acredita nas chances de sucesso do ex-ministro. Talvez nem ele mesmo acredite nelas.
Aureliano não conseguiu fortes apoios no seu próprio estado. Não conseguiu atrair o PTB ou parte dele. Está incomodado com a filiação de Jânio ao partido. Em condições normais de temperatura e pressão, deveria estar comemorando o ingresso do ex-prefeito que poderia vir a ajudá-lo.
Mas Aureliano sabe que Jânio se meteu no PFL para apostar na queda dele. A mais de um interlocutor, o ex-prefeito já confessou que sua candidatura é para quando setembro vier. Até lá, imagina que Aureliano acabará saindo do páreo.
Em caso de renúncia de candidato, a Executiva do partido indica o substituto. Não precisa marcar uma nova convenção. Jânio sonha em ser indicado. Com o apoio do próprio Aureliano.
Ulysses sonha em crescer alguns pontos nas próximas pesquisas sobre intenção de voto para colar o PMDB à sua candidatura. Toda a confusão interna do PMDB poderá ser dissipada se Ulysses der alguma prova de que chegará ao segundo turno da eleição.
Salvo um desastre imprevisto, Collor de Mello deverá chegar ao segundo turno. Pode perder, até lá, parte da força que exibe hoje. Mas terá que despencar muito para não chegar.
Subiu nas pesquisas sozinho, por seus próprios méritos de ilusionista político. Seus defeitos e sua inexperiência poderão vir a ser responsáveis pela queda que se anuncia.
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