quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Garimpos Piratas aumentam casos de malária entre Ianomâmis

ALERTA
Garimpos piratas aumentam casos de malária entre ianomâmis de Roraima, diz
médico
Publicada em 05/08/2009 às 18h12m
Fabiana Parajara, O Globo
SÃO PAULO e BOA VISTA -

Os garimpos piratas de Roraima estão provocando o aumento de casos de malária entre os ianomâmis. A denúncia é feita pelo médico sanitarista Oneron de Abreu Pithan, da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Segundo ele, o trânsito de garimpeiros nas proximidades das
aldeias acaba aumentando o número de casos da doença entre os indígenas. A malária é transmitida de uma pessoa infectada para outra sã pela picada do mosquito.
Os médicos da Funasa esperavam fechar 2009 com menos de dois mil casos de malária entre a
população ianomâmi da região. O número de ocorrências no primeiro semestre foi de 1.300 casos, contra 2.800 no mesmo período do ano passado. Mas o objetivo da Funasa não deve ser atingido, prevê o sanitarista.
- Os garimpos provocam um maior trânsito de pessoas pelas reservas. Há contato entre os índios e os garimpeiros, além de uma movimentação maior dos próprios índios, muitos deles vindos da Venezuela.
Esse trânsito ajuda a disseminar a doença. Os garimpos ilegais são um problema constante na região, mas não vemos a Polícia Federal e os órgãos de
Justiça se mexendo para coibir isso. O grande impacto acaba sendo da saúde dos indígenas - diz o médico.
O médico afirma que, entre 2007 e 2008, o número de casos de malária em todas as aldeias ianomâmis da região já havia caído de 6,4 mil para 5,8
mil.
- A maioria desses casos estava concentrada nas aldeias do Amazonas, onde o problema é causado pela movimentação em torno da extração de piaçava. Em Roraima, a doença estava bastante controlada até o início do ano, com o registro mensal de até quatro casos. Mas o surgimento dos garimpos levou tudo a perder, especialmente na região de Auaris. Tivemos em Roraima quatro casos em maio, 39 em junho e 199 em julho - explica o médico, acrescentando que quase todos os casos estão concentrados nas cinco aldeias da região de Auaris.
De acordo com ele, foi montado um grande esquema para barrar o avanço a doença, porém é
necessário o fechamento dos garimpos. Nas aldeias onde são constatados casos da doença, os
médicos e enfermeiros testam toda a população e já ministram medicamentos para as pessoas que têm resultado positivo para a doença. Ao mesmo tempo, inseticida é aplicado nas imediações para conter o número de mosquitos transmissores da doença.
- O controle é feito semanalmente até que não haja mais casos constatados. Depois disso, o controle passa a ser quinzenal e vai se espaçando gradativamente - explica o médico.
Pithan conta que essa estratégia tem sido usada desde 2000 com bons resultados.
- Em 2000, quando ela começou a ser usada, tínhamos 7,5 mil ianomâmis com a doença, numa
população de 8 mil índios. Em 2001, esse número já havia caído para 2,7 mil e, no ano seguinte,
para 400 - conta o médico.
O trabalho, no entanto, pode ser rapidamente comprometido quando qualquer pessoa com a doença
- no caso os garimpeiros - tem contato com os índios.
- O controle é constante, mesmo porque os índios se movimentam entre a Venezuela e o Brasil.
Quando constatamos um caso, rapidamente monitoramos a população. Não é raro que a gente constate, em pouco tempo, que 50% da aldeia foi
contaminada. Isso porque a pessoa contaminada leva até 15 dias para manifestar os sintomas. Neste meio tempo, ela já contaminou o mosquito que
acaba espalhando a doença - diz Pithan.
O sanitarista explica que as equipes de saúde se empenham em interromper a transmissão, mas que precisariam do apoio de outros agentes públicos.
- Sem a atuação da Polícia Federal e da Justiça, não temos como solucionar o problema - diz o médico.

Os garimpos provocam um maior trânsito de pessoas pelas reservas.
Há contato entre os índios e os garimpeiros, além de uma movimentação maior dos próprios índios. Esse trânsito ajuda a disseminar a doença.